A VITÓRIA DOS QUE PERDEM

Os derrotados não constam da história, porque normalmente quem faz a história são os vencedores. Sendo um lugar comum e correcto na maioria das vezes, mas não é uma verdade universal. Hoje quase todo o mundo pára para a celebração de um derrotado no seu tempo. À muito, muito tempo atrás, alguns religiosos levaram os governantes a emitirem uma sentença de pena de morte a um inocente. Essa pena foi executada e todos os maiorais da altura, devem ter ficado descansados com o cumprimento da sentença, embora, creio que todos sabiam da injustiça cometida. Hoje passados mais de dois mil anos, festeja-se rijamente em todo o planeta a vinda à Terra dessa pessoa, mesmo aqueles que dizem que não querem ter nada com o assunto. Certamente já se aperceberam que estou a falar de Jesus, o Cristo. Mas quem é verdadeiramente, este Jesus Cristo e o que é isto de Natal ? Ninguém sabe ao certo quando nasceu Jesus, mas a tradição trouxe-nos até ao dia 25 de Dezembro. Mesmo sabendo-se que esta data não é certa e que os critérios da sua escolha não foram os mais correctos, mas como é uma data de consenso por tradição, e qualquer que fosse o dia escolhido teria os seus prós e contras. Assim como assim já estamos habituados a esta data e como Deus é um Deus de festividades devemos celebrar neste dia, em que muitos em todo o planeta, crentes ou não, se revêem. No Natal celebra-se um acontecimento importante, a vinda de Deus à Terra, na forma da criação. Deus criou todo o universo e tudo o nele que existe, incluindo os anjos e os humanos e limitou os humanos à dimensão dos sentidos. A vinda de Deus à Terra não é um acto de paz, mas de amor. Jesus, Deus, teve de descer ao nível da criação para poder vencer o último dos obstáculos, a morte espiritual, ou seja, a separação total e absoluta do criador. A forma escolhida foi a de um humano, e aqui começa o trajecto fantástico da vinda do criador para junto da criação. Optou por vir como filho de homem e mulher e seguir todos os passos de desenvolvimento dos humanos. A única diferença foi a sua geração em poder, através da encarnação. Embora se possa dizer que no Natal se celebre o nascimento de Jesus, o próprio nascimento em si mesmo é irrelevante, pois o acto de descer à Terra encarnando a forma humana é uma manifestação gloriosa do poder de Deus e esse sim é acto que alterou toda a eternidade, pois Deus que é um espírito assumiu a forma humana. Jesus na sua natureza é 100% Deus e 100% humano, sendo um dos mistérios que as nossas limitações não conseguem atingir em plenitude. Deus não precisou de vir à Terra para experienciar o que é ser humano, pois ele próprio nos criou e nos acompanha diariamente. No éden, a criação decidiu viver separada do criador. Esta decisão afectou não apenas a descendência humana, mas também toda a outra criação que ficou entregue a leis físicas que mantêm as dimensões sob tensão. Devido a esta decisão, a criação ficou sem uma comunhão interactiva com o criador. Este afastamento levou a criação a viver unicamente para alimentar os seus instintos e emoções levando tudo o que a rodeia à destruição. A criação optou por um caminho de dor e auto destruição em virtude de viver no seu egoísmo estéril e foi-se afastando de Deus, chegando a negar a metafísica espiritual, optando por aquilo que os sentidos conseguem alcançar. Ao negar a espiritualidade, a criação entrou numa espiral de desorientação estando já no limite de já nem saber quem é, o que anda a fazer e para aonde vai, chegando ao cumulo de se auto-confundir com as outras criações. Os humanos deixaram de viver e passaram a existir. Os humanos foram criados para serem companheiros e cooperadores de Deus, mas ao escolherem viver separados do criador, falharam o alvo para o qual estavam destinados. A palavra pecado significa etimologicamente falhar o alvo. A criação inteligente, criativa e com capacidade de escolher errou o alvo. Assim ao pecar, aliás errar o alvo, a criação com capacidade de livre arbítrio vive afastada do poder do criador. Como viver é mais que existir, o criador por amor fez tudo para retomar a comunhão. Com uma arrogância desmedida e com uma cosmovisão limitada, os Homens ao longo da existência foram rejeitando todas as tentativas de conciliação. Por fim, Deus resolveu vir pessoalmente, com o objectivo explícito de trazer a mensagem do Reino de Deus e do Evangelho. O Evangelho, a Boa Nova é que o Reino de Deus passou a estar ao alcance de todos e a salvação, ou seja, a conciliação com Deus foi consumada em Jesus Cristo e é um dom gratuito para todo aquele que crê. A primeira vinda de Jesus aconteceu devido à necessidade que a criação teve de um mediador que suportasse todas as consequências da decisão de viver afastado de Deus e de todas as coisas más que foram fazendo em consequência do afastamento. O mediador teve de ser réu e cumprir a sentença que estava destinada a todos. Como nenhum humano teve capacidade de per si resolver esta situação, Jesus Deus suportou a miséria de se fazer humano e de pagar na cruz tudo o que nos estava destinado, cumprindo assim uma sentença substitutiva por todos nós e já aceite pelo juiz. Ao celebrarmos o Natal estamos a celebrar a vinda de Deus à Terra, Jesus Cristo e a sua vitória para que possamos viver eternamente junto ao criador. Antes da vinda de Jesus, Deus ordenou uma série de festividades, provando que é um Deus alegre e que gosta de sentir a sua criação realizada. Todas as figuras que aparecem nesta altura são criaturas imaginárias, criadas para animarem a festa de anos de Jesus. Por muitos que se apresentem numa festa de anos, por muitos enfeites que se inventem, sem o aniversariante a festa não tem sentido. Ao nos reunirmos nesta ocasião estamos a declarar a nossa alegria por tamanho privilégio de poder celebrar a vinda do Senhor. Ao compartilharmos a refeição na época do Natal, estamos a declarar o nosso desejo de conciliação, sendo para muitos a única forma de expressão. Ao darmos um presente a alguém é como se estivéssemos a dar a Jesus. Ao vir à Terra e posteriormente completar na Cruz o plano da salvação, Jesus abriu o caminho para que todos os humanos se pudessem conciliar com Deus, e isto sim, é a verdadeira prenda de Deus para a criação e totalmente gratuita, basta querer receber. Queres que está prenda seja também para ti, basta dizeres que sim em qualquer altura, em qualquer época, em qualquer ocasião, por isso é que o Natal é todo o ano, pois Jesus está constantemente à espera para entregar esta prenda para a qual foste criado. Assim sendo teremos a vitória naquele que à primeira vista pareceu um derrotado. Os humanos reencontram através de Jesus o seu lugar no universo cósmico. Celebremos com alegria.
Alexandre Reis
Para algum esclarecimento contactar através do e-mail: blog.terradosreis@gmail.com

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